terça-feira, 25 de novembro de 2008

Afinidade


"Não é o mais brilhante mas é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente, também.

Não importam o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades: quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto que ele foi interrompido.

É não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. É rara. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.

Ela existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.

O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro de sua boca diante de alguém com quem tem afinidade.

É ficar de longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar uma palavra. É receber o que vem do outro com uma aceitação anterior ao entendimento. É sentir com. Nem sentir “contra”, nem sentir “para”, nem sentir “pelo”.
É sentimento singular, discreto.

Não precisa nem do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está.

Pode existir a quilômetros de distância.

É adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, até de respirar.

É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.

É retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo da separação. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.

Sensível é a afinidade. E exigente, apenas de uma coisa: que as pessoas evoluam parecido. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau.

É o mais sutil e delicado dos sentimentos. "
(Artur de Távola)

2 comentários:

Anônimo disse...

Entao chama afinidade? Bjs!

Nana Rodovalho disse...

Ha ram...chama sim!!! Beiju!